segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Bunkai e Shitei

Andava eu pela net a procurar katas de Goju, deparei com este site, ( http://www.gojuryu.neu.edu/videos.html ) lembrei-me da palavra “shitei”.
Todos os karatekas sabem que shitei significa oficial.
No contexto de karateka significa kata obrigatório/oficial e segundo o Dicionário Japonês-Português da Porto Editora, o termo shitei tem vários significados.
O significado que penso se adequar à nossa terminologia é o seguinte:

Shitei-a determinação; a marcação; a designação; a indicação; a especificação.

Ex.
Kono hon wa waga-ko no kyokasho ni shitei sarete iru
(Este é o livro de texto obrigatório na [indicado para a] nossa escola)

Numa época em que é necessário oficializar tudo e mais alguma coisa (pelo menos para alguns) será que não podemos inventar/pesquisar?
Será que temos que nos prender ao que é oficial?
Não dando margem de manobra para evoluirmos nos variados sentidos de uma arte?

Apesar de mesmo eu me considerar um pouco quadrado em matéria de kata, questiono se devemos seguir o mesmo caminho em relação às aplicações? Se existem as ditas aplicações oficiais ou básicas, então devemos treiná-las exaustivamente sem olhar para outro tipo de aplicações?

Mais uma vez, no contexto marcial, chamamos bunkai às aplicações. No Dicionário Japonês- Português da Porto Editora, bunkai significa desmontar.

Ex.
Bunkai suru
(desmontar as peças)

Face a esta informação podemos dizer que kata bunkai poderá significar, desmontar uma sequência de técnicas, mas…
Será que todas as técnicas são interpretadas da mesma maneira?

Segundo um indivíduo muito conceituado nas artes marciais, a nível mundial, bunkai significa interpretação pessoal.
Pronto, não é que eu ache que isto deva ser a república das bananas e cada um de nós deva interpretar as coisas à sua maneira sem existirem regras e orientações. No entanto acho que se deve treinar um bocadinho mais do que o que é o oficial.

Em geito de conclusão, eu cá gosto muito de bife com batatas fritas mas também me sabe bem comer de vez em quando um peixinho com legumes e batatas cozidas.

2 comentários:

Anónimo disse...

Concordo, tanto mais que nem todas as aplicações "base" dão para utilizar com todo o tipo de oponentes (altos, magros, gordos, mulheres, etc...)

Mas o que ainda é mais giro é que certas pessoas nem as base querem ensinar em profundidade... desculpa, treinar com regularidade... limitando-se a repetir saco ou ude tanden!

Marco Mateus disse...

Grande amigão! Desculpa-me por "colocar a foice em seara alheia" mas, não pude deixar de comentar esta tua reflexão, apesar de estilo diferente mas, nestas questões (e noutras) somos todos iguais. Há uns meses treinei com um grande mestre japonês, que vive no Brasil (portanto não houve problemas de interpretação)e que me disse que cada karateka deve ter os seus próprios bunkai. Que não podemos limitar o nosso karaté a uma leitura universal sobre os katas. E porque o deveríamos fazer?
Fiquei muito satisfeito de ouvir isto da boca dele pois, empiricamente, era isso que eu já fazia. Raramente faço a mesma aplicação de kata com os meus alunos e, para os mais novos é muito estimulante esta desconstrução dos katas (e muito menos monótona). Para mim, karaté deve ser liberdade, fantasia, e capacidade de superação/adaptação a situações diversas. Quando era jovem, raramente tive ocasião de treinar dessa forma. Ganhei por isso uma grande aversão aos katas, pela monotonia que implicava e pela rigidez que transmitia.
Só hoje compreendo a verdadeira profundidade dos katas.

Oss

P.S. - E perdoa esta minha entrada nos teus domínios...