terça-feira, novembro 22, 2005

A arte, o desporto e a porrada


Mais uma semana em cheio. Na quinta-feira o Sensei Jorge Monteiro veio a Lisboa dar mais um treino de cintos negros. No Sábado de manhã, campeonato regional da FNK-P e à noite Super-League de Thai Boxing.

Quinta-feira 17 de Novembro (20H30)

Realizou-se pelas 20h30 no Real Massamá, o segundo treino de cintos negros APOGK da zona sul. Desta vez abordou-se a kata Sepai e alguns kihon bunkai. Apesar deste treino estar mais virado para as graduações de 1º e 2º dans, estiveram presentes alguns 3ºs e 4ºs e claro o 5º. O Sensei Jorge Monteiro explicou de maneira detalhada esta kata, a todos os presentes neste treino.
Logo de seguida ficaram as graduações acima de 3º dan e desta vez abordou-se a kata Suparinpei. Sem duvida esta kata é a mais complexa do estilo. Apesar de ter todos os movimentos das outras katas de Goju-ryu, existem alguns miseráveis pormenores que nos fazem passar todos por simples principiantes... depois para complicar mais o sistema, esta kata tem 3 níveis de execução (Jo, Chu e Ge). Actualmente a kata que fazemos é a versão Jo, uma vez que segundo as pesquisas do Sensei Morio Higaonna, as outras versões perderam-se com o tempo. Já tive a oportunidade de treinar esta kata com grandes mestres: Morio Higaonna, Bakkies Laubcher, Ernie Molineux e Jorge Monteiro (esta parte é para dar graxa) e todos eles tem sempre algo de novo a transmitir. O próprio Sensei Higaonna muitas vezes ensina esta kata de maneira diferente. O exemplo disso foi quando eu estive em Okinawa a treinar no seu Dojo e ele em três dias ensinou-nos de forma diferente (timing, velocidade, etc.). Quando lhe perguntei o porquê, ele apenas respondeu “ train, and you will find”.
Acho que é isso, “ train, and you will find”! O karate é uma coisa tão pessoal, temos que descobrir por nós próprios e não adianta estarmos agarrados aos livros e aos vídeos... temos que treinar... pois só assim é que algum dia teremos oportunidade de descobrir a verdadeira essência desta arte marcial.
Como diz um amigo meu, podemos ler todos os livros de culinária, mas isso não faz de nós cozinheiros.

Sábado 19 de Novembro (09H00)

Mais uma vez lá fui convocado para ir arbitrar no campeonato regional de cadetes e juniores da Federação. Desta vez não tive que levar com os cromos dos vídeos e dos livros, pelo menos directamente. Aparecer neste tipo de eventos ainda é porreiro... um gajo fala com os amigos, lembra-se das porradas que deu (claro que nunca falamos daquelas que levámos), enfim...
Para mim está-se a tornar cada vez mais um frete ir a este tipo de manifestação desportiva, ver as katas tudo bem, mas agora o kumite..., precisa-se de karatekas, com perfil de competidor de kata!
Faltam atletas com perfil de ganhador, a nossa rapaziada está com a moral em baixo, falta-nos um Vítor Gomes, um Serra (o Higaonna Português).
Os elementos da família Goju-ryu estão um bocado aquém dos outros estilos (agora vêm aqueles velhos do Restelo dizer que os árbitros não conhecem as katas de Goju), falta-lhes personalidade, confiança.

Tenho saudades dos treinos do Sensei José Wilson com uma vara na mão e a gritar GOJU-RYU, GOJU-RYU, nessa altura sim, a moral do pessoal estava bem alta e éramos o estilo mais forte.

Adiante... parabéns aos atletas do Sensei Sérgio Repas e do Sensei Ricardo Alves, que se classificaram nos três primeiros lugares em kumite. Que continuem a treinar e a desenvolver um bom trabalho.

Quinta-feira 17 de Novembro (19H00)

Porrada (pronto, agora já toda gente sabe, o Sensei João Ramalho gosta de ver Thai-Boxing) isto é o que o pessoal gosta. Com um cartaz convidativo, lá fui eu ver as feras da Super-League. Estiveram presentes atletas da Holanda, Turquia, França, Alemanha, Dinamarca, Portugal.

Esta é uma prova realizada por um promotor Europeu, cujo objectivo é criar uma resposta ao K-1 Max, promovido por uma empresa Japonesa. De alguns anos para cá, tenho vindo a acompanhar este fenómeno em Portugal e é notório como a modalidade tem crescido desde há 5 anos para cá. A grande questão que ponho é: porquê?
Grande parte dos espectadores, não fazem Kick, Full ou Thai e no entanto dirigem-se em grande massa a estes eventos. Porquê?

Este dia foi um dia de contrastes, de manhã estive numa prova onde estavam mais competidores do que espectadores, à noite estive numa prova onde estavam 24 atletas e cerca de 1000 espectadore. De manhã as entradas eram de borla e à noite eram de 20€ a 34€.

O que é que será que nós karatekas fizemos para ter esta sorte?

Sim, sorte, porque não á nada de mais degradante do que ver a Lili Caneças a gritar por um aluno nosso, ver o Mozer (antigo jogador lampião) a dar palmadas nas costas de um vencedor de um combate.
Nós não precisamos de pessoas conhecidas a ver e a promover as nossas competições, a nossa comunidade é auto-suficiente. Só para finalizar, e como diz a senhora da mercearia...

Realmente somos uns gajos com muita sorte!! Eles é transmissão televisiva, eles é dinheiro, mas nós temos a honra intacta, havemos de ser os eternos candidatos a modalidade Olímpica e isso, ninguém nos tira,... má nada! ; )

PS: Dia 30 de Novembro, vai haver uma gala com bons combates (as regras vão ser de K-1) no pavilhão “Paz e Amizade” em Loures, pelas 21H00. Quem quiser aparecer, a entrada é a 7 aéreos.

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