domingo, outubro 23, 2005

Domingo 23 de Outubro de 2005


É sabido, que é desde muito pequenos que a nossa personalidade se forma, e se vai acentuando com o passar dos anos, e não são os castigos e as palmadas que vão alterar essa maneira de ser.
Face a esta verdade onde é que o karate se encaixa na sociedade em geral? E o que é que o karate tem para dar a essa mesma sociedade?

A primeira coisa que nos ensinam na primeira aula de karate é reikishi (etiqueta), antes de entrarmos no dojo devemos fazer uma saudação. Esta saudação não passa de um pedir permissão para entrar num espaço que é partilhado por uma pequena comunidade. Depois de alinharmos conforme a nossa antiguidade e graduação, é executado um ritual (sem fins religiosos) de forma a saudar os mestres fundadores do estilo e de seguida é feita a saudação ao instrutor. Todos estes rituais não servem apenas para nos lembrarmos que fazemos uma actividade oriental e muito menos para sabermos quem é o mestre. Serve para nos lembrarmos daqueles que já estiveram entre nós e nos deixaram algo para recordarmos e de seguida para saudarmos aquele que chegou a um determinado nível, antes de nós (Sensei). Sempre que iniciamos e terminamos qualquer exercício a dois, devemos fazer uma saudação a cumprimentar o nosso parceiro de treino. Antes, serve para lhe pedirmos para treinar com ele e posteriormente para lhe agradecer por ter treinado connosco. Todas estas saudações não são formas de subserviência, sendo uma forma de mostrar respeito pelos mais velhos da comunidade, e pelos que estão ao mesmo nível que nós.

O karate é uma actividade na qual os seus praticantes são desafiados a superar os seus limites e as suas limitações. Caso não exista um discurso de respeito pelos outros, por parte dos instrutores, o karate não passa de mais uma actividade física onde se dá socos e pontapés. A minha convicção é que o carácter dos praticantes é que fazem o karate e não o contrário. O que esta arte marcial permite é acentuar os valores que estão implícitos na sociedade em geral.
Devemos nos esforçar para melhorar no dia-a-dia, devemos respeitar aqueles que chegaram a determinado lugar antes de nós e sempre que entrarmos em competição directa com alguém, deveremos respeitar essas pessoas. Dessa forma qualquer que seja a nossa postura ou atitude, não nos podemos esquecer que não somos só nós que estamos a ser avaliados, mas sim toda uma comunidade (o nosso dojo, a nossa família, a nossa associação e um bocado extremista o nosso país).
Por isso, recordo a todos os karatekas que, quando nos curvarmos para fazer uma saudação devemos nos lembrar destes pequenos pormenores, de outro modo o que estamos a fazer não terá significado algum.