sábado, novembro 05, 2005
Fazemos um karate tradicional??? Somos tradicionalistas???
Esta não é uma pergunta que colocamos regularmente.
Frequentemente é colocada não como uma questão mas como uma afirmação que obstinadamente fazemos (e ouvimos) nos bastidores do karate.
Mas afinal o que é isto de karate tradicional?
Será a maneira como executamos as katas? Será por treinarmos makiwara? Será porque alguém nos diz que é tradicional?
E se alguém nos perguntar o que é o karate não tradicional?
Será que as pessoas que sabem (???) o que é ser tradicional nos conseguem responder?
Vamos começar pelo nosso Goju Ryu. O Sensei Chojun Miyagi teve muito poucos alunos e é do conhecimento de todos que, naquele tempo, apenas se ensinava duas a três katas por aluno. A Sanchin era a única kata que todos aprendiam e depois a kata a ser ensinada individualmente dependia das necessidades do aluno. Quando a kata a ser ensinada era escolhida pelo Sensei para o aluno, ocorriam adaptações técnicas para os diversos alunos (basta ver o Sensei Yagi e o Sensei Miyazato) e agora perguntar (só para ser mauzinho), qual dos dois é tradicional?...
Sinceramente eu não consigo responder, se calhar é um, ou serão os dois?
Bem, perante este impasse vou colocar a mim próprio a outra questão primordial:
Serei um karateka tradicional?
SIM, DEFINITIVAMENTE!
Porquê? Porque treino Hojo-undo, Yubi-undo, kihon, kata, bunkai, ippon kumite, kakie e, acima de tudo, quando faço kumite dou porrada nas pernas do pessoal!!!!!
Como? Os outro também? Então qual de nós é que faz o karate tradicional?
Partindo do pressuposto que os que estão a ler esta seca sabem o que é o karate, será que sabem o que é tradicional?
Tradicional significa (in Dicionário da Língua Portuguesa On-Line, Texto Editora):
“Transmitido só por tradição; Conservado como tradição.” (Isto está difícil...)
Tradição significa (in Dicionário da Língua Portuguesa On-Line, Texto Editora):
“Do Lat. traditione, entrega
“Acto de transmitir ou entregar; Transmissão oral de lendas, factos, etc. , de pais para filhos; Transmissão de valores espirituais de geração em geração; Conhecimento ou prática que provém da transmissão oral ou de hábitos inveterados; Hábito; Uso; Notícia de um facto transmitido oralmente ou por testemunho que livros, sucessivamente publicados, confirmam; Recordação; Memória.”
Pronto já está! Agora é só escolher a forma que mais nos convêm. Para mim algumas estão excluídas:
- Memória: todos os antigos alunos tem as sua memórias, e alguns só se recordam daquilo que lhes convêm (até parecem políticos) todos dizem que receberam alguma coisa do mestre depois da morte deste, estátuas, fatos, quadros, relógios, roupa interior, cartões de credito... desculpem entusiasmei-me! Vamos lá prosseguir...
Face a estes novos dados podemos aceitar que karate tradicional é uma sucessão de dados transmitidos de mestre para alunos.
E o que faz de nos karatekas tradicionais, é o facto de estarmos ligados a um grupo de pessoas que tem por base a mesma tradição. No meu caso, tenho um instrutor (Jorge Monteiro Shian), que por sua vez tem um mestre (Morio Higaonna Shian) que por acaso tem um mestre (An`Ichi Miyagi Saiko Shian) que foi aluno do fundador do estilo de karate.
Em jeito de conclusão:
Em vez de se andar a discutir quem é o detentor da verdadeira verdade, as pessoas deviam treinar mais, pois o verdadeiro karate só se encontra através do treino, da pesquisa e do tempo. Apenas com o tempo começamos a imprimir o nosso cunho pessoal no estilo de karate que fazemos e certamente toma(re)mos sempre como referências grandes mestres.